21/07/2017. Entrevista por Marta Daniela Santos.
Continuamos a rubrica iniciada na semana passada, em que recordamos os distinguidos no Encontro Anual cE3c 2016!
Leonor Rodrigues (EE-Ce3C) foi distinguida no Encontro Anual cE3c 2016 com o Best Poster Award (em conjunto com Alexandre Figueiredo, cuja entrevista publicámos na semana passada) como autora do poster How to find a virgin in a haystack of mated females. O Encontro Anual cE3c 2016 realizou-se nos dias 27 e 28 de junho 2016 na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Leonor Rodrigues encontra-se na recta final do seu doutoramento sobre conflitos sexuais e estratégias de acasalamento, que iniciou em 2012 no Programa Doutoral em Biodiversidade, Ecologia e Evolução da Universidade de Lisboa. Sob a orientação de Sara Magalhães (EE-cE3c) e Isabelle Olivieri (ISEM, UM2), Leonor Rodrigues tem desenvolvido o projeto The effect of sexual and host-endosymbiont conflitcts over sex allocation and mating strategies in the spider mite Tetranychus urticae, do qual resultaram já algumas publicações.
Para além do trabalho que apresentaste neste poster, a que outros temas de tens dedicado no teu projeto de doutoramento?
O principal objectivo do meu projecto de doutoramento foi estudar que adaptações são favorecidas pela selecção sexual, em espécies em que o primeiro macho a acasalar com uma fêmea é aquele que fertiliza todos os seus ovócitos. No entanto, em algumas destas espécies as fêmeas acasalam mais do que uma vez. Isto é um paradoxo evolutivo, uma vez que o acasalamento exige, em teoria, um esforço energético. De modo a poder abordar esta aparente contradição, decidimos usar o ácaro-aranha Tetranychus urticae.
Quais são os principais desafios neste trabalho?
Neste poster confirmamos que os machos usam pistas químicas, nomeadamente voláteis, e rastos químicos deixados no substrato, para distinguir fêmeas virgens de fêmeas fecundadas. Estes resultados permitiram-nos concluir que a poliandria - isto é, o acasalamento de vários machos com uma única fêmea -, não ocorre devido a uma incapacidade, por parte dos machos, de discriminar fêmeas fecundadas de fêmeas virgens. Isto sugere que este comportamento é vantajoso para pelo menos um dos sexos.
Na sequência desta constatação, procurámos encontrar potenciais benefícios provenientes da existência de poliandria em machos e fêmeas. Outra possibilidade teria sido estudar a composição destas pistas químicas.
O mais complicado nestas experiências de comportamento sexual é conseguir que os ácaros acasalem quando queremos, a quantidade de vezes que queremos. É cansativo e moroso porque exige observações comportamentais longas, mas também pode ser muito divertido observar estes artrópodes minúsculos. Por exemplo, uma vez vi uma fêmea a por um ovo na cabeça de um macho que tentava acasalar com ela!
Porque escolheste esta área de investigação?
Eu sempre me interessei por comportamento e evolução. Mais tarde, durante o mestrado, percebi que as perguntas que mais me entusiasmavam em evolução estavam relacionadas com reprodução. Como aquilo que mais me move é a minha curiosidade, achei que fazia todo o sentido estudar este tema. Tive a sorte de conseguir combinar reprodução, comportamento e evolução num só projecto de doutoramento.
O que significou para ti receber esta distinção?
Sabe sempre bem que o nosso trabalho seja reconhecido, dá-nos motivação para continuar a trabalhar. Este prémio em particular foi especial por ter sido recebido em conjunto com o Alexandre Figueiredo. Provou que o trabalho em equipa compensa.
Que conselhos gostarias de deixar para quem pretenda seguir esta área?
Cada vez mais me convenço que o importante é fazer aquilo de que se gosta. Porque ser feliz no trabalho é meio caminho andado para se ser feliz fora do trabalho. Para além disso, um bocadinho de teimosia e muita curiosidade, nunca fizeram mal a ninguém.
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