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Estudar a distribuição geográfica dos cetáceos: é tudo uma questão de escala

29/08/2017. Texto de Marta Daniela Santos

Na fotografia: Stenella frontalis (golfinhos pintados do Atlântico). Fotografia de Marc Fernandez.

Um novo estudo (*) conclui que os resultados dos modelos de distribuição geográfica de espécies oceânicas muito móveis, como os cetáceos, são muito diferentes dependendo da escala de tempo que se considera para as variáveis ambientais - meses, semanas ou dias. Os investigadores concluem que se obtêm os melhores resultados quando se utilizam variáveis com resolução semanal.

Um dos primeiros passos para conhecer melhor uma espécie é perceber onde ela habita, qual o seu padrão de distribuição geográfica, e como é que esse padrão evolui no tempo. Este conhecimento é fundamental também para o desenvolvimento de medidas de conservação eficazes. 

No entanto estamos ainda longe de conhecer a distribuição geográfica da maior parte das espécies, sendo um dos fatores para este desconhecimento a ocorrência destas espécies em meios de difícil acesso. Os modelos de distribuição geográfica relacionam dados de presença numa dada área com as variáveis do ambiente nessa área - como temperatura, clorofila, batimetria, entre outros - para estimar o nicho ecológico da espécie e, por essa via, extrapolar a área geográfica em que uma determinada espécie se pode encontrar.

A aplicação destes modelos é particularmente complexa no caso de espécies marinhas, como os cetáceos, que devido à sua elevada mobilidade respondem com rapidez a alterações ambientais no oceano. Os investigadores compararam os resultados de modelos de distribuição destas espécies quando eram utilizadas variáveis ambientais com diferentes escalas de tempo - meses, semanas ou dias. “Em meios altamente dinâmicos, como por exemplo os oceanos, esta questão é essencial. Quando usamos variáveis com intervalos muito grandes - neste caso, meses - os modelos não são capazes de prever a distribuição das espécies”, explica Marc Fernandez, primeiro autor do artigo, investigador do cE3c e do Grupo de Biodiversidade dos Açores.

Os investigadores recorreram a espécies virtuais, baseadas em cetáceos, e a dados reais de teledeteção para as variáveis ambientais na região do arquipélago dos Açores. “Os nossos resultados revelam que a modelação com recurso a variáveis ambientais com resolução semanal produz melhores resultados. Além disso, verificámos que modelar com variáveis com resolução diária - em vez de semanal - não conduz a melhorias significativas dos resultados”, explica Marc Fernandez.

Este estudo vem frisar a importância de conhecer a ecologia da espécie em estudo para selecionar as melhores variáveis: a facilidade de acesso aos dados não deve funcionar como única condicionante para a resolução temporal que é adotada.

 

(*) Fernandez M, Yesson C, Gannier A, Miller PI, Azevedo JMN. (2017) The importance of temporal resolution for niche modelling in dynamic marine environments. J. Biogeogr. https://doi.org/10.1111/jbi.13080 


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