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Novo estudo revela que os insetos polinizadores da Ilha Terceira se adaptaram aos habitats criados pela atividade humana

1/02/2017. Texto por Marta Daniela Santos.

Note: English version available here.

Um estudo agora publicado, por investigadores do cE3c e do Grupo de Biodiversidade dos Açores (GBA), demonstra que as populações de insetos polinizadores da Ilha Terceira não estão a ser afetadas pelas alterações no uso dos solos por atividades humanas. Este resultado, contrário ao que seria expectável, implica que estes insetos se adaptaram com sucesso a novos habitats.

As ilhas reúnem enormes níveis de biodiversidade e, ao mesmo tempo, são ecossistemas muito sensíveis às alterações ambientais. A alteração no uso dos solos por atividades humanas, como por exemplo a conversão de florestas nativas em terrenos agrícolas e florestas exóticas, tem sido responsável pela perda e degradação de habitats e pela extinção de diversas espécies no último século.

Muito pouco se sabe ainda sobre o impacto da alteração no uso dos solos nas populações de insetos polinizadores, grandes responsáveis por um processo fundamental nos ecossistemas - a reprodução das plantas. O estudo agora publicado é o primeiro realizado neste âmbito para a Ilha Terceira (Açores), e um dos primeiros a nível mundial para ilhas oceânicas.

Ao longo de dois anos, os investigadores observaram insetos polinizadores em locais selecionados na Ilha Terceira, correspondentes a habitats com diferentes níveis de perturbação humana: desde habitats de floresta nativa, a floresta exótica ou terrenos com diferentes níveis de pastoreio. Os investigadores supunham que habitats com maior perturbação humana iriam exibir menor abundância e diversidade de espécies de insetos polinizadores.

Mas, ao contrário do que esperavam, verificaram que não se observam diferenças significativas na distribuição e abundância destes insetos entre diferentes habitats na ilha. Ou seja, existe um domínio de espécies endémicas e nativas nas comunidades de insetos polinizadores quer se considerem habitats de floresta nativa, floresta exótica, ou terrenos com diferentes intensidades de pastoreio.

Ana Picanço, investigadora do cE3c e do Grupo de Biodiversidade dos Açores (GBA) e primeira autora do estudo, explica: “Estes resultados implicam que os insetos polinizadores da Ilha Terceira se adaptaram com sucesso a novos habitats e prestam serviços de ecossistema essenciais aos sistemas agrícolas desta ilha. Significa também que, na ausência de espécies de polinizadores exóticas competidoras, os insetos polinizadores nativos e endémicos podem estar a facilitar a proliferação de espécies de plantas exóticas ou invasoras”.

Na continuação deste estudo os investigadores estão a avaliar o impacto deste resultado na complexidade das redes de polinizadores nos vários tipos de habitats na ilha Terceira, assim como os serviços de ecossistemas na ilha em termos de produção agrícola.

 

Picanço, A., Rigal, F., Matthews, T.J., Cardoso, P. & Borges, P.A.V. (2017). Impact of land-use change on flower-visiting insect communities on an oceanic island. Insect Conservation and Diversity, DOI: 10.1111/icad.12216

http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/icad.12216/abstract 


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