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Trabalho de investigador cE3c entre as 10 descobertas consideradas como mais importantes pela Science em 2016

21/01/2017. Texto por Marta Daniela Santos.

Um artigo do qual o investigador Vítor Sousa (cE3c) é co-autor, ainda enquanto investigador do Instituto de Ecologia e Evolução da Universidade de Berna (Suíça), está entre as 10 descobertas consideradas mais importantes pela revista Science em 2016.

No final de 2016 a Science anunciou as nove descobertas ou avanços científicos finalistas para atribuição do prémio Breakthrough of the Year - um prémio atribuído anualmente por esta revista desde 1989, àquele que considera ser o avanço científico mais significativo em cada ano. É considerado como uma das maiores distinções em ciência.

Entre estes avanços científicos - entre os quais acabou por ser escolhido como Breakthrough of the Year 2016 a detecção experimental de ondas gravitacionais (*) - encontram-se os três artigos publicados em 2016 que corroboram que a saída do Homo sapiens de África para povoar todo o planeta se deu numa única onda migratória. Os três artigos foram publicados em simultâneo por três equipas internacionais de investigação, e o investigador Vítor Sousa (cE3c) é co-autor de um destes artigos (A.-S. Malaspinas et al., “A genomic history of Aboriginal Australia,” Nature 538, 207 (2016)), enquanto trabalhava no Instituto de Ecologia e Evolução da Universidade de Berna (Suíça).

Há muito que os investigadores procuravam determinar como e quando os humanos modernos deixaram África: se numa única migração, ou em ondas migratórias sucessivas. Trata-se de uma questão fundamental para compreender a diversidade genética e cultural em humanos modernos, muito debatida entre paleo-antropólogos, antropólogos, arqueólogos, linguistas e geneticistas.

Até agora, os dados existentes eram contraditórios, mas vários estudos publicados em 2016 vieram demonstrar que a maioria das pessoas vivas fora de África descende na verdade de uma única migração, que terá ocorrido há cerca de 70 000 anos, de acordo com as estimativas destes estudos. Para isso, os investigadores analisaram o genoma de centenas de aborígenes da Austrália, Papua Nova Guiné e África.

“Ao compararmos os genomas de populações actuais com os genomas de fósseis de humanos arcaicos (Neanderthal e Denisova) concluímos que, apesar das diferenças genéticas entre Europeus, Asiáticos e Australianos, todas estas populações partilham um ancestral comum que migrou para fora de África há relativamente pouco tempo – cerca de 70 mil anos”, explica Vítor Sousa. “Estes resultados abrem portas para perceber como é que as populações humanas conseguiram sobreviver e provavelmente adaptar-se a ambientes tão distintos como o deserto, as florestas tropicais, ou zonas frias e de alta altitude, em tão pouco tempo. Compreender melhor a história desta migração, assim como a dos cruzamentos com os neandertais e outros humanos arcaicos, irá permitir perceber melhor a nossa diversidade genética e por exemplo elucidar a base genética da susceptibilidade a algumas doenças”.

Esta é também uma questão central do ponto de vista biológico: como é que os humanos modernos conseguiram colonizar o mundo e viver em ambientes tão distintos? “Caso houvessem várias ondas migratórias podíamos dizer que os Australianos estão adaptados a viver em deserto ou em climas tropicais porque partilham um património genético que lhes confere essa habilidade, enquanto que outras ondas migratórias, por exemplo vindas de outras regiões de África, poderiam não ter essa diversidade genética. Esta descoberta, de que todos descendemos de uma única migração, indica que todos partilhamos o mesmo património genético inicial e foi com esse património que conseguimos adaptar-nos a vários ambientes”, esclarece Vítor Sousa.

Agora no cE3c, Vítor Sousa continua a colaborar com esta equipa: o investigador trabalha no desenvolvimento de métodos estatísticos que permitem analisar dados genómicos de fósseis com diferentes idades, e que podem ser aplicados para estudar a história evolutiva de outras espécies.

 

(*) Tal como um seixo que é atirado para um lago produz ondas à superfície da água, a teoria da relatividade de Einstein prevê que todos os corpos em movimento produzem ondas gravitacionais - perturbações no "tecido" do espaço-tempo. Estas perturbações são mínimas para corpos com massa à nossa escala; só são verdadeiramente significativas para eventos de grande escala no universo. Esta previsão de Albert Einstein, com mais de 100 anos, foi confirmada em setembro de 2015 quando foi anunciada pela primeira vez a deteção de ondas gravitacionais, causadas por dois buracos negros que giravam em toro um do outro e acabaram por colidir, fundindo-se num só. Esta descoberta foi confirmada em fevereiro de 2016.


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