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Ganha quem chega primeiro? Não, e a coexistência é possível!

Na imagem: as duas espécies de ácaros-aranha (Fotografias de Mite Squad)

Ganha quem chega primeiro? Não, e a coexistência é possível!

Num estudo publicado na Ecology Letters, uma das revistas mundiais com mais impacto na área da Ecologia e da Evolução, a equipa internacional liderada por Inês Fragata, uma cientista do cE3c distinguida com uma bolsa do European Research Council (ERC), mostra que nem sempre chegar primeiro a determinado habitat implica que uma espécie domine o ambiente. A vantagem competitiva de uma espécie sobre outra, não depende apenas de características intrínsecas, mas também de fatores casuais, como “quem chega primeiro” a um habitat específico.

Utilizando duas espécies semelhantes de ácaros-aranha, a investigadora montou uma experiência em que duas gerações de ácaros se alimentaram da planta de tomate. A experiência real foi acompanhada de modelação em computador e os resultados sugerem que a ordem de chegada das espécies à planta é importante: mudanças na ordem de chegada podem produzir diversos resultados competitivos, desde a coexistência até à exclusão de uma ou de outra espécie. É urgente que os “ecologistas tenham em conta os múltiplos resultados que a contingência histórica pode produzir na coexistência de espécies”, explica Inês Fragata.

Este é o primeiro estudo empírico a demonstrar uma alteração marcante no resultado das interações competitivas entre espécies devido a mudanças na ordem de chegada a um ambiente, uma vez que sugere que essas alterações podem ser suficientes para a monopolização de um recurso, o que pode facilitar a coexistência entre espécies concorrentes.

Na realidade, o que é que aconteceu?

Quando a espécie que seria considerada o competidor “inferior” chega primeiro, coloniza o estrato alimentar preferido da sua “adversária”. Esta pequena vantagem permite-lhe, no entanto, estabelecer um equilíbrio em termos de “ocupação dos recursos”. Quando a segunda espécie – o competidor considerado “superior” – chega à planta, as alterações já induzidas aproximam a competitividade das duas espécies. Este artigo demonstra que se o “competidor” considerado inferior for o primeiro a chegar, isso poderá facilitar a coexistência com competidores mais fortes. No fundo, é como se um ladrão com pouca experiência assaltasse uma casa antes de chegar um ladrão mais eficiente: no final, ambos acabam por beneficiar igualmente do roubo, porque o menos experiente chegou ao cofre primeiro.

O estudo aponta para a potencial neutralização da espécie dominante, mostrando que a “ordem de chegada das espécies e o contexto espacial das interações competitivas podem determinar conjuntamente se as espécies podem coexistir”, sublinha Sara Magalhães.

A equipa internacional inclui, além de Inês Fragata, Sara Magalhães e Mariya Kozak do cE3c e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Raul Costa-Pereira da Universidade Estadual de Campinas, no Brasil, Agnieszka Majer, da Adam Mickiewicz University, na Polónia e Oscar Godoy do Instituto Universitario de Investigación Marina, em Espanha.

Ref. Artigo: Fragata, I., Costa‐Pereira, R., Kozak, M., Majer, A., Godoy, O., & Magalhães, S. (2022). Specific sequence of arrival promotes coexistence via spatial niche pre‐emption by the weak competitor. Ecology Letters. https://doi.org/10.1111/ele.14021

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