12/03/2021. Texto de Marta Daniela Santos, com base na informação oficial disponibilizada pela Ciências ULisboa. Fotografias e imagens cedidas pela equipa do projeto FCULresta.
Está a nascer uma minifloresta no campus da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. A iniciativa pioneira é coordenada por David Avelar, investigador do cE3c, no âmbito do Laboratório Vivo para a Sustentabilidade de Ciências ULisboa, e a plantação teve lugar entre 1 e 5 de março de 2021.
O que antes era um relvado com pouca utilidade e biodiversidade, em frente ao Edifício C2 de Ciências ULisboa e da Torre do Tombo, foi agora transformado na FCULresta: uma minifloresta densa, biodiversa e multifuncional que pretende ser uma referência prática e um laboratório vivo para estudantes e investigadores.
Esta minifloresta conta agora não só com mais de 600 plantas, como também com dois hotéis para insetos, um refúgio para anfíbios, outro para répteis e sensores para monitorizar o solo. “A ideia surgiu há um ano, no início da primeira vaga pandémica. Está enquadrada no projeto 1Planet4All através da VIDA, uma organização não-governamental para o desenvolvimento que trabalha com populações em Moçambique e Guiné, como ato simbólico da responsabilidade acrescida dos países ditos desenvolvidos na problemática das alterações climáticas, face aos países africanos mais vulneráveis. A intenção era fazer algo prático envolvendo e capacitando muitos jovens ativistas”, explica David Avelar, investigador do cE3c e coordenador deste projeto, que envolve vários investigadores do cE3c.
Devido ao agravar da pandemia a plantação, inicialmente prevista para dezembro de 2020, acabou por ter lugar entre 1 e 5 de março de 2021. O cumprimento de todas as medidas de segurança não impediu o entusiasmo dos 150 voluntários que contribuíram para a plantação – organizados por 10 turnos de 15 pessoas, assegurando o distanciamento físico e com a utilização obrigatória de máscara de proteção.
“Achámos que mesmo em tempos de crise como a pandemia, a saúde do Planeta deve ser cuidada sem descurar a saúde humana. Com o apoio da Faculdade criámos um plano de contingência e avançámos”, refere o investigador.
A plantação da FCULresta decorreu entre 1 e 5 de março 2021, num esforço de equipa que envolveu 150 voluntários - organizados por turnos de 15 pessoas, respeitando todas as regras de segurança face à pandemia de COVID-19. Contribuem para este projeto vários investigadores do cE3c: por exemplo Francisco Petrucci-Fonseca (em cima, à direita), Florian Ulm e Margarida Santos-Reis (em baixo, à esquerda).
A floresta está a ser criada segundo o método Miyawaki: um método de reflorestação criado pelo botânico japonês Akira Miyawaki na década de 1970 que tem dado origem a milhares de miniflorestas um pouco por todo o mundo e que, pela densidade e diversidade de espécies plantadas, que ocupam diferentes estratos e nichos, permite um ritmo de crescimento cerca de 10 vezes mais rápido do que numa floresta plantada em monocultura - algo que nunca foi provado acontecer em clima mediterrânico e que a FCULresta quer testar.
De acordo com o método Miyawaki, a floresta terá também uma alta taxa de absorção de carbono, bem como uma excelente capacidade para atrair animais e plantas, para além das já plantadas, uma boa capacidade de processar a água da chuva, melhorar a qualidade do ar e reduzir a poluição sonora, e ainda contribuir para o conforto térmico local.
A FCULresta servirá como caso de estudo para avaliar e compreender o verdadeiro potencial deste método, através do trabalho de uma equipa interdisciplinar: para além de David Avelar, fazem parte também Margarida Santos-Reis, Jorge Maia Alves, António Alexandre, Cristina Cruz, Otília Correia, Rui Rebelo, Pedro Pinho, Tiago Marques e Cristina Catita.
A plantação da FCULresta, e posterior desenvolvimento e avaliação, conta com um forte envolvimento da comunidade de Ciências ULisboa e uma equipa dedicada interdisciplinar - entre eles, vários investigadores do cE3c. À direita na imagem, Margarida Santos-Reis (cE3c, Ciências ULisboa).
“Para além da forte componente prática e de intenso envolvimento de estudantes e parcerias, a FCULresta pretende ter uma forte componente de investigação multidisciplinar. Queremos tentar perceber o contributo relativo deste método sobre os serviços de ecossistema que irá ou não providenciar. Por exemplo, será que a taxa de crescimento e absorção de carbono é significativamente superior aos métodos ditos tradicionais? Será que aquela área consegue absorver toda a água da chuva de fenómenos de precipitação extrema? Quais as espécies que crescem melhor? Existe interação entre espécies? Que outras espécies irá aquele local atrair? E pessoas? Haverá mais investigadores a utilizar este caso de estudo?”, conclui David Avelar.
Esta iniciativa é coordenada pelo Laboratório Vivo para a Sustentabilidade de Ciências ULisboa, no âmbito do projeto europeu 1Planet4All - Empowering youth, living EU values, tackling climate change, que resulta da aliança de 14 organizações não-governamentais europeias que trabalham em alguns dos países mais frágeis do mundo afetados pelas alterações climáticas.
Mais informações sobre a FCULresta na página oficial do projeto da Ciências ULisboa, AQUI.