9/11/2020. Texto de João Pedro Nunes, editado por Marta Daniela Santos. Imagem: Nick-D, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons
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Os devastadores incêndios florestais na Austrália em 2019 e 2020 queimaram mais de 12 milhões de hectares de áreas naturais, incluindo grande parte da região em que se encontram as bacias hidrográficas que fornecem água potável para New South Wales e Victoria, com potenciais impactos negativos na qualidade da água. Este facto colocou em destaque a necessidade de os fornecedores de água implementarem medidas de emergência que possam ser tomadas para minimizar estes impactos.
A Associação dos Serviços de Água da Austrália (WSAA) publicou recentemente um guia de boas práticas nacionais para a gestão de incêndios florestais para a indústria hídrica australiana – disponível aqui – utilizando uma metodologia de avaliação do risco de contaminação da água após fogos florestais construída no âmbito de uma colaboração internacional liderada pelo investigador João Pedro Nunes, do cE3c. Os resultados dessa colaboração internacional foram publicados na revista Hydrological Processes em 2018, aqui. Desta equipa internacional fazem parte investigadores que trabalham em algumas das regiões do mundo mais afetadas pelo fogo, como a zona mediterrânica da Europa, os Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Os investigadores propuseram uma estrutura operacional para entender os sistemas hidrológicos afetados pelo fogo, incluindo diretrizes para identificar os contaminantes preocupantes, as formas pelas quais eles são mobilizados e os caminhos pelos quais eles alcançam os corpos de água. A WSAA aplicou esta estrutura num sistema informático de manipulação de informação geográfica, o que permite aos abastecedores de água australianos identificar rapidamente e mitigar os riscos potenciais do abastecimento de água imediatamente após grandes incêndios florestais. Posteriormente, alguns membros desta equipa colaboraram com associados da WSAA para ajudar a implementar a metodologia.
Portugal enfrenta um problema semelhante, conforme demonstrado pelos impactos dos incêndios florestais de 2017. Para abordar esta questão, o cE3c está a desenvolver o projeto FRISCO: managing Fire-induced RISks of water quality Contamination, baseado na mesma metodologia. Trata-se de um projeto também liderado pelo investigador João Pedro Nunes, que assenta numa colaboração com a empresa de abastecimento “Águas de Portugal” e que visa construir uma ferramenta de avaliação de risco operacional para fornecedores de água com base em imagens de satélite de água queimada.
O artigo científico liderado por investigadores do cE3c e que informa estas diretrizes operacionais está disponível aqui:
Nunes JP, Doerr SH, Sheridan G, Neris J, Santín C, Emelko MB, Silins U, Robichaud PR, Elliot WJ, Keizer J. 2018. Assessing water contamination risk from vegetation fires: challenges, opportunities and a framework for progress. Hydrological Processes 32 (5): 687–684. http://dx.doi.org/10.1002/hyp.11434