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Best Talk Award 2019: Entrevista a Joana Hancock

14/08/2019. Entrevista por Marta Daniela Santos.

Joana Hancock (TMB-cE3c) foi distinguida com o Best Talk Award na edição de 2019 do Encontro Anual do cE3c (1-2 julho, MUHNAC), pela apresentação “Genetic characterization of green turtles (Chelonia mydas) from São Tomé and Príncipe: insights on species recruitment and dispersal in the Gulf of Guinea". Joana Hancock foi distinguida em ex-aequo com Paula Gonçalves - nossa entrevistada na próxima semana. Este prémio pretende distinguir a melhor apresentação por um membro associado do centro, por decisão da Comissão Executiva.

Joana Hancock encontra-se na reta final do seu doutoramento, que iniciou em 2014 no âmbito do Programa Doutoral em Biodiversidade, Genética e Evolução (BIODIV). O seu projeto tem como foco as tartarugas marinhas no arquipélago de São Tomé e Príncipe: estuda quais as atuais ameaças antropogénicas na região e qual o seu impacto na conservação das populações locais de tartarugas marinhas.

 

No que consiste o trabalho que apresentaste no Encontro Anual?

No Encontro Anual apresentei um dos capítulos da minha tese sobre a biologia e ecologia das tartarugas marinhas que ocorrem em São Tomé em Príncipe, que se refere à caracterização genética das tartarugas verdes (Chelonia mydas). No arquipélago temos tanto adultos como juvenis e, através de marcadores genéticos, vimos a diversidade genética para cada grupo e tentámos perceber as relações entre os dois grupos, tanto entre si como com outras populações do Atlântico.

Quais são os principais desafios neste trabalho?

São Tomé e Príncipe é um caso estudo muito interessante, não só pela sua localização no Golfo da Guiné, caracterizado por um sistema complexo de correntes marinhas e por serem ilhas vulcânicas a mais de 200Km do continente Africano, logo comparar estas com populações que ocorrem em zonas costeiras continentais valeu a pena. No entanto, ao longo da costa Africana as populações de tartarugas juvenis estão pouco estudadas e os estudos genéticos são limitados, o que limitou um pouco o estudo sobre a dispersão de juvenis a partir das ilhas.

Porque escolheste esta área de investigação?

A genética tem sido cada vez mais uma forte ferramenta para entender padrões de recrutamento e dispersão em tartarugas marinhas. Não só obtemos informação sobre a composição genética das populações, como marcadores tais como o ADN mitocondrial permitem-nos inferir populações de origem de populações mistas como as de juvenis, que são tipicamente compostas por indivíduos provenientes de diversos stocks genéticos. Havendo relativamente poucos estudos sobre tartarugas marinhas juvenis nas áreas de alimentação, e havendo a curiosidade de saber qual a origem das juvenis em São Tomé e Príncipe, era impossível não enveredar pela genética!

O teu projeto envolve bastante trabalho de campo. Tens alguma história curiosa que gostasses de partilhar?

Talvez o maior desafio deste projeto tivesse sido, ao princípio… amostrar os juvenis! Tive de pedir ajuda a pescadores conhecidos por serem (ex)caçadores de tartarugas marinhas em São Tomé para capturar os animais para estudá-los. O que começou como um desafio muito grande devido ao elevado grau de desconfiança (a captura de tartarugas marinhas em São Tomé e Príncipe está proibida desde 2014), acabou em fortes amizades e respeito mútuo, e a integração destes pescadores, mais tarde, na equipa do Programa Tatô! (https://www.programatato.org/)

O que significa para ti receber esta distinção?

Significa que de uma forma ou outra as tartarugas marinhas, sendo animais carismáticos, despertam sempre o interesse e simpatia do público, o que para quem as estuda traz uma enorme gratidão e satisfação. São Tomé e Príncipe é um arquipélago lindo com uma riqueza natural e cultural enorme, mas ainda relativamente pouco conhecida lá fora. O meu maior objetivo é mostrar São Tomé e Príncipe ao mundo, dar a conhecer as suas riquezas e, claro, promover a conservação das tartarugas marinhas, que pouco a pouco vão ganhando mais relevo como algo a conservar, do que a explorar, devido ao crescente interesse por parte de turistas e investigadores. E esse, para mim, é o maior ganho. 

Completa a frase: Para mim, fazer parte do cE3c significa...

Ser parte de uma grande família de colegas e amigos dos quais me orgulho de pertencer. 

Ao longo de um doutoramento podem surgir períodos de maior stress ou menos confiança. Gostarias de deixar algum conselho a outros estudantes de doutoramento para melhor ultrapassarem esses períodos?

Haverá sempre esses momentos, e na minha opinião é importante passarmos por eles para avaliarmos as nossas ações e podermos ver de forma crítica o nosso trabalho. Mas mais importante é sabermos que não estamos sós, todos os alunos de doutoramento passam pelo mesmo, falem sobre isso com os colegas e amigos, desabafem, saiam de casa e tentem equilibrar o trabalho duro com momentos de lazer e diversão. É bem melhor do que procrastinar e sofrer mais lá para o fim!

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