31/03/2018. Texto de Marta Daniela Santos, adaptado do artigo. Na fotografia: acácia (Acacia longifolia), fotografia de Catarina Costa.
Um novo estudo agora publicado na revista Web Ecology, disponível aqui, avalia a contribuição relativa do vento e da polinização por insetos para o sucesso de reprodução da acácia (Acacia longifolia), espécie invasora em Portugal. A estratégia mista de polinização desta espécie pode estar na base da sua proliferação na ventosa zona costeira de Portugal.
Inicialmente introduzida na Europa para fixar os solos e para fins ornamentais, a acácia (Acacia longifolia) rapidamente se tornou uma praga, ao propagar-se sem controlo ameaçando a biodiversidade e alterando o funcionamento dos solos.
Sempre se considerou que esta espécie é entomófila – ou seja, que deve a sua polinização à visita de insetos. No entanto, estes não estão ainda em atividade na Europa nos frios primeiros meses do ano, período em que ocorre a floração da acácia. Como se explica então o sucesso reprodutivo desta espécie nesta região?
A acácia é conhecida pelas suas muitas flores, muito perfumadas – características normalmente presentes quando a estratégia reprodutiva de uma planta passa por atrair insetos. Por outro lado, estas flores são pequenas, com numerosos estames e grãos de pólen pequenos – características normalmente presentes em plantas cuja disseminação ocorre por intermédio do vento.
O estudo agora publicado apresenta uma avaliação preliminar da estratégia mista de polinização da acácia, avaliando a contribuição relativa do vento e da polinização por insetos para a reprodução desta espécie.
As autoras do estudo – as investigadoras Manuela Giovanetti, Margarida Ramos e Cristina Máguas do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) – adotaram uma nova abordagem: consideraram à partida que uma parte do sucesso de polinização desta espécie se deve à ação do vento, e realizaram um conjunto de experiências de exclusão de polinizadores entre fevereiro e abril de 2016, época de floração da acácia, que lhes permitiu avaliar qual a contribuição relativa do principal polinizador.
Os resultados corroboraram a importância dos insetos para a polinização desta espécie; no entanto, durante o período das experiências foi de facto baixa a abundância registada de insetos. Em particular as abelhas, conhecidas como polinizadoras da acácia, foram registadas em baixo número e nem sempre as suas visitas tiveram sucesso na perspetiva da polinização.
Futuros estudos podem ajudar a determinar se a estratégia mista de polinização da acácia é estável ou transitória. O facto de o vento poder desempenhar um papel significativo na polinização desta espécie pode ajudar a explicar a sua proliferação agressiva em Portugal, em particular na ventosa zona costeira.
Referência do artigo:
Giovanetti, M., Ramos, M., and Máguas, C.: Why so many flowers? A preliminary assessment of mixed pollination strategy enhancing sexual reproduction of the invasive Acacia longifolia in Portugal, Web Ecol., 18, 47-54, https://doi.org/10.5194/we-18-47-2018, 2018.
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