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Estudo revela que a carga parasitária em colónias mistas de aves depende da identidade das suas espécies

30/04/2021. Na imagem: Rolieiro (Coracias garrulus) chegando ao seu ninho numa parede de nidificação artificial. Autor: João Gameiro.

Um estudo recentemente publicado na revista Parasitology conclui que, em colónias mistas de aves, a identidade das aves – isto é, a sua espécie – é o principal fator que influencia quais os parasitas que lá são encontrados.

Embora as colónias de aves sejam normalmente compostas por várias espécies, a maioria dos estudos sobre a presença e abundância de parasitas focava-se apenas em colónias formadas por uma única espécie. Os parasitas de aves podem afectar o desenvolvimento de crias e adultos, diminuir o sucesso reprodutor das aves e alterar a dinâmica de populações, podendo mesmo estar envolvido na criação ou extinção de colónias.

O estudo agora publicado mostra que, ao contrário do que era conhecido para colónias com apenas uma espécie de ave, o tamanho ou a densidade da colónia não influenciam a presença ou abundância de parasitas em colónias compostas por várias espécies de aves.

“Na verdade, é a identidade dos hospedeiros - se é um rolieiro ou um pombo, por exemplo - que mais influencia a composição de parasitas nos ninhos destas colónias, independentemente do quão grandes, densas, ou ricas são. Além disso, e por causa disso, o número de casais ou ninhos de cada espécie torna-se o fator determinante para a abundância da mosca Carnus hemapterus: uma pequena mosca chupadora de sangue muito frequente em várias espécies de aves e o parasita mais comum nestas colónias”, explica João Gameiro, primeiro autor do estudo, a desenvolver o seu doutoramento no cE3c, em Ciências ULisboa.

O estudo foi desenvolvido na Zona de Proteção Especial de Castro Verde, no Sul de Portugal, local onde foram amostrados mais de 250 ninhos de 30 colónias mistas diferentes. Os ninhos estavam localizados em cavidades em edifícios abandonados ou em estruturas de nidificação artificiais, disponibilizadas pela Liga para a Proteção da Natureza durante projetos LIFE e destinadas originalmente a recuperar as populações de francelho em Portugal. A equipa amostrou quatro grupos de parasitas diferentes, entre moscas, ácaros e piolhos, em quatro espécies de hospedeiros diferentes – francelho (Falco naumanni), rolieiro (Coracias garrulus), estorninho-preto (Stunus unicolor) e pombo doméstico (Columba livia).

Os investigadores estudaram como a abundância e diversidade de parasitas nas colónias de aves variava em função do tamanho da colónia, de quão próximos se encontravam os ninhos entre si, da riqueza de espécies de aves que neles habitavam e do número de ninhos de cada especie.

“Independentemente do tamanho ou densidade da colónia, ela vai ter mais parasitas se for dominada por francelhos, e menos parasitas se a colónia for dominada por estorninhos”, refere João Gameiro. “O que explica estes resultados é a suscetibilidade de cada espécie de ave a cada parasita. Espécies menos suscetíveis, como estorninhos, não atraem tantos parasitas”, acrescenta Jesús Veiga, co-autor do estudo, investigador de pós-doutoramento do Conselho Superior de Investigações Científicas de Espanha, na Estação Experimental de Zonas Áridas em Almería, Espanha.

Este estudo mostra assim como um maior contacto entre várias espécies de aves nestas colónias mistas torna mais complexas as interações entre parasitas e os seus hospedeiros, desafiando o que se sabe atualmente sobre a relação entre parasitismo e a vivência em colónia das aves.

Referência do artigo:

Gameiro, J., Veiga, J., Valera, F., Palmeirim, J., & Catry, I. (2021). Influence of colony traits on ectoparasite infestation in birds breeding in mixed-species colonies. Parasitology, 1-40. DOI:  http://dx.doi.org/10.1017/S0031182021000470

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