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Plataforma portuguesa que investiga o montado a longo prazo distinguida a nível internacional

13/09/2019. Texto de Marta Daniela Santos. Na imagem: Herdade da Coitadinha, um dos cinco sítios de experimentação e monitorização que compõem a plataforma LTsER Montado. ©: Pedro Pinho.

A plataforma LTsER Montado, uma plataforma de investigação socio-ecológica de longo prazo sobre o montado, foi distinguida com o Prémio “Most Striking Case” atribuído pela primeira vez pela Rede Internacional de Investigação Ecológica de Longo Prazo (ILTER).

O montado é uma das paisagens identitárias de Portugal. Moldado pelo Homem ao longo de séculos por atividades como a agricultura, a pastagem e a caça, este ecossistema tipo savana é característico do sul do país e reconhecido pelas vastas extensões de sobreiros e azinheiras dispersas pela paisagem, com uma enorme importância económica, ambiental e cultural para o país. O estudo deste ecossistema, com vista à sua perservação e sustentabilidade, é uma das prioridades de vários grupos de investigação do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), reunindo os esforços de um conjunto significativo dos seus investigadores através de projetos nacionais e internacionais.

Na Herdade da Ribeira Abaixo, estação de campo do cE3c (FCUL), um dos cinco sítios de experimentação e monitorização que compõem a plataforma LTsER Montado. ©: Pedro Pinho. 

A plataforma LTsER Montado

Criada em 2011, a plataforma LTsER Montado (LTsER do inglês Long-Term Socio-Ecological Research) recolhe, analisa e armazena séries temporais de dados ambientais, sociais e económicos, para desenvolver investigação sobre todos os fenómenos e processos que afetam o montado. E o trabalho que tem vindo a desenvolver nestes oito anos foi agora reconhecido a nível internacional com o Prémio “Most Striking Case” atribuído pela rede ILTER, que agrega centenas de sítios de investigação ecológica de longo prazo.

“O que distingue esta plataforma de investigação é a visão abrangente e de longo prazo que tem deste ecossistema. O montado muda, mas muda devagar: muitos fenómenos associados às alterações ambientais, como as alterações climáticas e no uso do solo, a desertificação e a degradação do solo apenas se conseguem detetar a longo prazo”, explica Margarida Santos-Reis, coordenadora da plataforma LTsER Montado e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c/FCUL.

LTsER Montado é uma dos quatro sítios/plataformas de investigação ecológica de longo prazo que existem no nosso país, constituindo a rede LTER Portugal. A rede LTER organiza-se em dois níveis: as plataformas LTSER e os Sítios LTER, sendo que as plataformas abrangem uma área geográfica mais vasta e integram uma abordagem socio-ecológica na sua investigação – daí o ‘s’ na designação LTsER.

A plataforma LTsER Montado desenvolve a sua investigação conjugando os dados regionais obtidos por deteção remota e bases de dados e estatísticas oficiais com trabalho de campo desenvolvido em cinco sítios de experimentação e/ou monitorização, que representam um gradiente de clima e tipos de solo: a Herdade da Ribeira Abaixo (estação de campo da FCUL), a Companhia das Lezírias, a Herdade da Machuqueira do Grou, a Herdade da Coitadinha e a Herdade da Contenda.

Em cima: Companhia das Lezírias. Em baixo: Herdade da Contenda. Dois dos cinco sítios de experimentação e monitorização que compõem a plataforma LTsER Montado. ©: Pedro Pinho.

Estudar o montado a longo prazo – e numa perspetiva transdisciplinar

O Prémio “Most Striking Case” foi criado pela rede ILTER com o objetivo de distinguir a plataforma com resultados mais marcantes, que só poderiam ser obtidos através de um trabalho de equipa e uma abordagem transdisciplinar e de longo-prazo.  É essa a abordagem que tem vindo a ser desenvolvido na LTsER Montado, envolvendo investigadores de diversas disciplinas científicas – como biólogos, ecólogos, cientistas sociais e geólogos – e assumindo o envolvimento da população da região e dos decisores políticos.

“Num dos nossos projetos recentes trabalhámos com as várias pessoas envolvidas no montado – como os donos da terra, gestores, técnicos, associações de caçadores ou de apicultores e cientistas – para identificar e avaliar o que identificam como os principais serviços prestados pelo montado – ou seja, os benefícios que obtemos deste ecossistema. Os produtos derivados do sistema, como a cortiça,  e os serviços de regulação e manutenção foram dos mais valorizados”, explica Inês Teixeira do Rosário , da equipa do LTsER Montado e investigadora do cE3c, na FCUL.

A sustentabilidade futura do montado depende de uma gestão adequada e de uma visão de longo-prazo, e uma das ações que tem vindo a ser implementada para combater a degradação do sistema é a reflorestação ou a promoção da regeneração natural. Noutro dos seus projetos mais recentes (AdaptforChange), a equipa desenvolveu um modelo que permite avaliar com grande precisão espacial o potencial da regeneração natural ao longo do tempo. “Este modelo mostrou que as zonas com menor exposição solar são as zonas com maior regeneração natural ao fim de 60 anos, e permitiu também ver que este sucesso diminui drasticamente num cenário de alterações climáticas” explica Adriana Príncipe, um dos elementos da equipa do LTsER Montado e doutoranda do cE3c, na FCUL. Estas recomendações foram já integradas no Plano de Adaptação de Mértola às Alterações Climáticas por André Vizinho, investigador do cE3c, e colegas.

Herdade da Machuqueira, um dos cinco sítios de experimentação e monitorização que compõem a plataforma LTsER Montado.

O reconhecimento internacional – e os próximos passos

Para além do reconhecimento internacional, o Prémio correspondeu ao pagamento da viagem e registo para participar na conferência ILTER Open Science Meeting 2019, que decorreu entre 2 e 6 de setembro em Leipzig (Alemanha), onde Pedro Pinho, investigador do cE3c, representou a equipa do LTsER Montado, apresentou as principais linhas de investigação e resultados obtidos e recebeu a distinção.

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