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À descoberta da Ecologia em Portugal: as três atividades organizadas pelo cE3c para o Ecology Day


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5/10/2018. Texto de Marta Daniela Santos. Fotografias da autoria de Câmara Municipal do Porto Santo, Enésima Mendonça e César Garcia.

Pelo segundo ano consecutivo o Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c-FCUL) associou-se às celebrações do Dia da Ecologia, organizando no passado mês de setembro três atividades de entrada gratuita na Madeira, nos Açores e em Lisboa.

O Dia da Ecologia celebra-se a nível Europeu a 14 de setembro, data em que, em 1866, o cientista alemão Ernst Haeckel formulou pela primeira vez o conceito de Ecologia como hoje o conhecemos. A Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), dinamizadora do Ecology Day em Portugal desde 2017, lançou às instituições desta área o desafio de organizarem atividades de divulgação – desafio ao qual o cE3c respondeu com a organização de três atividades, diversas na sua localização geográfica e no seu formato.

À descoberta dos musgos da Floresta do Porto Santo

A Ilha de Porto Santo, a menor das ilhas habitadas do arquipélago da Madeira – e também a mais antiga, com cerca de 18 milhões de anos – foi o palco da primeira atividade. Durante a manhã de 13 de setembro, quinta-feira, mais de vinte participantes partiram à descoberta dos musgos da Floresta do Porto Santo, numa saída de campo acompanhada por Susana Fontinha, investigadora do grupo “Natural History & Systematics - NHS” do cE3c-FCUL, numa atividade com o objetivo de chamar a atenção para a importância dos musgos como espécies pioneiras em ilhas vulcânicas e oceânicas.

Numa caminhada de quase três quilómetros até ao topo do Pico Branco, o segundo pico mais alto da ilha, os participantes puderam observar redutos da floresta primitiva do Porto Santo e conhecer como se terá dado a colonização da ilha por diversas espécies, chegadas dos continentes mais próximos – Europa e África – e de ilhas e ilhotas vizinhas, arrastadas pelos ventos e correntes marítimas, transportadas por aves e insetos.

“Numa primeira fase, a ilha terá sido colonizada por espécies pioneiras, de líquenes e briófitos. O desenvolvimento das comunidades destas espécies criou condições para o território albergar comunidades de plantas mais complexas, plantas vasculares, algumas produtoras de esporos, outras de flores e sementes, bem como de animais invertebrados e vertebrados”, explica Susana Fontinha.

Ao longo de milhões de anos, diversos seres vivos foram-se instalando na ilha e adaptando às condições do solo e do clima, influenciando a composição e distribuição da flora e a criação de florestas. Processos de expansão, competição e evolução conduziram à diversidade de espécies que atualmente caracterizam a flora e a vegetação Porto-santense.

No regresso da caminhada, os participantes foram ainda recebidos pelos Presidente e Vice-Presidente do Município do Porto Santo, uma das entidades que colaborou na organização desta atividade a par da Direção Regional para a Administração Pública do Porto Santo e da Secretaria do Ambiente e Recursos Naturais. Esta atividade enquadrou-se também na candidatura em curso do Porto Santo a Reserva da Biosfera da UNESCO.

Mapeamento de plantas invasoras na Ilha Terceira

Da Madeira passamos para os Açores – em particular para a Ilha Terceira, onde também celebrámos o Dia da Ecologia, com uma campanha de inventariação e georreferenciação de espécies exóticas invasoras na manhã de sexta-feira 14 de setembro.

Nesta atividade, organizada pelo Grupo de Biodiversidade dos Açores (GBA) do cE3c âmbito dos projetos “Invasoras.pt” e “Portal da Biodiversidade dos Açores”, vinte participantes percorreram a zona das Veredas (Mata do Estado), na zona central da ilha, onde coexistem espécies indígenas e exóticas e onde foram identificadas e georreferenciadas várias espécies invasoras – em particular a roca-de-velha (Hedychium gardnerianum) e o incenso (Pittosporum undulatum).

“Os ecossistemas terrestres dos Açores são muito ricos em espécies indígenas – nativas e endémicas – mas, ao longo de cinco séculos de humanização, foram também introduzidas nas ilhas grande número de espécies exóticas, para alimentação, fins ornamentais, para construção… Algumas destas espécies tornaram-se invasoras, ameaçando a integridade dos ecossistemas e podendo levar à extinção, pelo menos local, de espécies endémicas”, refere Rosalina Gabriel, investigadora do GBA e uma das coordenadoras desta atividade.

“Estas ações de sensibilização são um passo importante na conservação dos ecossistemas insulares, pois o risco das espécies invasoras é pouco valorizado pela sociedade”, acrescenta a investigadora.

A organização desta atividade contou com a colaboração da Associação “Os Montanheiros” e o leque de participantes reuniu bastantes jovens, oito deles com menos de 15 anos, que declararam ter ficado a conhecer “muitas plantas exóticas invasoras”.

Os briófitos em ambiente urbano

A última paragem desta viagem pela celebração da Ecologia traz-nos a Lisboa. Mais concretamente, à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e aos Jardins do Campo Grande, onde a tarde de 14 de setembro foi dedicada à descoberta dos briófitos em ambiente urbano, numa atividade guiada por  Cecília Sérgio e César Garcia, investigadores do grupo “Natural History & Systematics - NHS”do cE3c e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC).

Após uma introdução à área em laboratório, os participantes – em número mais reduzido, mas bastante motivados pela área – aplicaram os novos conhecimentos numa visita guiada pelos Jardins do Campo Grande: “A atividade foi um sucesso. A motivação dos participantes foi evidente, sobretudo na observação do material vivo no laboratório, bem como no campo”, refere Cecília Sérgio.

Para ilustrar o tema das alterações dos padrões de distribuição dos briófitos e o seu relacionamento com as alterações climáticas, os investigadores apresentaram exemplos, clarificando que uma única espécie de musgo pode ser indicadora dessas alterações, com base em herbário, cujos espécimes se encontram bem referenciados.

“Para realizar estes estudos, numa primeira fase é necessário conhecer a flora, para depois sabermos quais as espécies que estão a alterar os seus padrões de distribuição. Depois, é necessário conhecer a ecologia da espécie e as variáveis ambientais mais importantes e associar a muitos outros fatores, como por exemplo a poluição do ar”, explica Cecília Sérgio.

Estes estudos multidisciplinares assentam numa forte componente taxonómica, “hoje em dia muito marginalizada pela comunidade científica”, alerta Cecília Sérgio, acrescentando ainda: “É uma falta evidente, dado que estudos atuais sobre as mudanças globais na biodiversidade só podem ser validados com um bom suporte taxonómico”.

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