26/06/2017. Texto de Marta Daniela Santos. Comunicado de imprensa disponível aqui.
Novo estudo (*) revela que o ácaro-aranha (Tetranychus urticae), uma conhecida praga mundial de culturas agrícolas, não tem mecanismos de defesa contra bactérias.
Com menos de um milímetro de comprimento, o ácaro-aranha (Tetranychus urticae) é quase invisível a olho-nu. Mas porque se consegue alimentar de centenas de espécies de plantas, incluindo importantes culturas agrícolas como tomate, pepino, morango e limão, os seus efeitos podem ser devastadores. O estudo agora publicado revela que os ácaros-aranha podem ser vencidos pelas bactérias: os investigadores avaliaram os efeitos da infeção com as bactérias Escherichia coli e Bacillus megaterium, verificando que os ácaros-aranha não têm mecanismos de defesa contra estas infeções.
"A infeção bacteriana levou a uma morte bastante rápida da maioria dos ácaros-aranha infectados, associada ao crescimento contínuo e descontrolado das bactérias no interior dos ácaros. Ao nível genético, verificámos também que os ácaros-aranha não activam genes na presença de patogéneos como estas bactérias”, explica Gonçalo Santos Matos, primeiro autor do estudo e à data de realização do estudo investigador no cE3c sediado na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), e agora investigador no IGC – Instituto Gulbenkian de Ciência.
A sequenciação do genoma do ácaro-aranha já tinha revelado que uma boa parte dos genes conhecidos por codificar a resposta imunitária noutros invertebrados estavam ausentes nesta espécie. No entanto, não se sabia se os ácaros-aranha eram à mesma capazes de combater infeções de bactérias recorrendo a outros mecanismos, codificados noutros genes.
É importante notar, no entanto, que nem todos os ácaros apresentam esta ausência de resposta imunitária. Uma outra espécie de ácaro, Sancassania berlesei, é capaz de controlar o crescimento bacteriano e sobreviver à infeção: “Uma diferença importante destes ácaros consiste no habitat que ocupam e na dieta que têm. Enquanto S. berlesei se alimenta de detritos em que a presença de bactérias é mais que provável, o ácaro-aranha alimenta-se chupando o citoplasma das células, um meio virtualmente aséptico”, concluem os coordenadores do estudo Élio Sucena, investigador do IGC – Instituto Gulbenkian de Ciência e docente da FCUL, e Sara Magalhães, investigadora do cE3c.
Este estudo resulta da parceria entre o cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais e o IGC – Instituto Gulbenkian de Ciência, com o apoio de uma equipa da Vetmeduni em Viena de Áustria.
(*) Santos-Matos G et al. 2017 Tetranychus urticae mites do not mount an induced immune response against bacteria. Proc. R. Soc. B 284: 20170401. http://dx.doi.org/10.1098/rspb.2017.0401
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