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O montado de azinho na margem esquerda do Guadiana. Quando se formou? Quais as suas perspetivas de futuro?

Montado de Azinho em Barrancos (concelho de Barrancos) com sobcoberto de pastagem natural. (Fotografia de Leonor Sucena-Paiva)

O montado de azinho na margem esquerda do Guadiana. Quando se formou? Quais as suas perspetivas de futuro?

Será que o Montado de azinho, tal como o conhecemos hoje em dia, está presente na margem esquerda do rio Guadiana há muito tempo? Terá a dimensão da sua área variado muito durante os últimos 125 anos? Quais as perspetivas de futuro para este sistema agroflorestal?

O Montado é um sistema agroflorestal desenvolvido pelo homem que combina pastagens com uma cobertura arbórea mais ou menos dispersa de, maiormente, sobreiros e/ou azinheiras. Os Montados ocupam 11% do território português e têm sido tradicionalmente utilizados para fins pecuários, agrícolas e florestais. Para estudar a evolução histórica do Montado de azinho na área portuguesa localizada na margem esquerda do Rio Guadiana, investigadores em ecologia do cE3c compararam cinco mapas de uso do solo (dos anos 1890, 1952, 1995, 2007 e 2015) nesta região. Com esta análise concluíram que, ao contrário de outras zonas do Alentejo, no final do século XIX, o uso do solo, nesta região, era maioritariamente o aproveitamento de matos para a pastorícia. Só a partir das décadas de 1930, coincidindo com a campanha do trigo, 1940 e 1950, aquando da maior ocupação humana deste território, estes solos foram utilizados para a agricultura, o que levou à eliminação dos matos, mas muitas das árvores existentes foram conservadas. Foi assim que aumentaram significativamente as áreas de Montado nesta região.

Este estudo permitiu também concluir que o montado de azinho continua a ser o mais importante uso do solo, na margem esquerda do Guadiana, nos concelhos de Serpa, Moura, Barrancos e Mértola. A área ocupada pelo montado de azinho tem se mantido estável, não havendo variações significativas entre 1995 e 2015.

Quanto às perspetivas de futuro, Leonor Sucena-Paiva, primeira autora do trabalho desenvolvido no âmbito do seu doutoramento, refere que foi registada uma significativa diminuição na densidade das árvores nas primeiras duas décadas deste século, nesta região. Entre outros fatores que podem estar por trás deste declínio, a investigadora aponta pragas e doenças, e as práticas de gestão, nomeadamente, o sobrepastoreio e as gradagens, que impedem a regeneração natural das azinheiras. A investigadora refere, ainda, o agravamento e o aumento do número de períodos de seca que tem sofrido esta região nos últimos anos, como a que está atualmente a afetar o país, resultado das alterações climáticas. A continuarem os níveis elevados na mortalidade e os baixos níveis de regeneração registados, o número de árvores por hectare decairá para números que deixarão de ser compatíveis com a definição de um sistema multifuncional - o Montado. Estas áreas passarão a pastagens, com todas as consequências ecológicas e sociais que daí advirão.

 

Ref. Artigo:

Sucena-Paiva, L., Correia, O., Rosário, L. & Chozas, S. Holm oak wood pastures in SE Portugal: a spatial and temporal multiscale approach. Agroforest Syst 96, 173–186 (2022). https://doi.org/10.1007/s10457-021-00714-7

 

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