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Expedição à Antártida: líquenes como indicadores ecológicos de mudanças climáticas súbitas

13/02/2019. Texto de Marta Daniela Santos. Na imagem de destaque: Paula Matos e Maria Alexandra Oliveira em trabalho de campo na Ilha de Livingstone. Foto de Miquel Ibañez.

Paula Matos e Maria Alexandra Oliveira, investigadoras de pós-doutoramento do cE3c (FCUL), estão numa expedição na Antártida para estudar os líquenes que se encontram neste ambiente extremo. Os objetivos? Desenvolver um indicador ecológico que permita antecipar as mudanças súbitas no clima da Antártida e datar depósitos relacionados com o recuo dos glaciares. Podem acompanhar o dia-a-dia da expedição aqui.

Cerca de 12 000km separam Lisboa da Base Antártida Juan Carlos I, na Ilha de Livingstone, na Antártida, onde Paula Matos e Maria Alexandra Oliveira já se encontram a trabalhar. Mas o desafio de uma expedição desta envergadura começa logo na viagem de ida, que demora no mínimo 5 dias. A um voo comercial até Punta Arenas, no Chile, segue-se um voo militar até à Ilha Antártida de King George e ainda uma viagem de navio de um dia até finalmente chegar à Ilha de Livingstone. E, quando as condições meteorológicas não são as ideais, é preciso esperar.

“Estamos as duas ansiosas por ir, queremos começar já a trabalhar”, dizia por telefone Paula Matos, enquanto aguardavam pela autorização do voo militar pelo Instituto Antártico Chileno, em Punta Arenas. O nevoeiro intenso que se fazia sentir fez com que as investigadoras tivessem de aguardar dois dias pela autorização para poderem prosseguir viagem.

Pormenor do avião que fez o voo militar até à Ilha de King George, na Antártida. Foto de Paula Matos.

Líquenes como indicadores ecológicos

Durante as próximas semanas, Paula e Alexandra vão obter amostras de líquenes que, juntamente com os musgos, dominam a vegetação que se observa neste ambiente extremo. “Vamos ver e amostrar as comunidades de líquenes ao longo de um gradiente de clima. Com base nesses dados, e nos conhecimentos já reunidos pela comunidade científica ao longo dos últimos vinte anos, queremos desenvolver um indicador ecológico que permita prever as mudanças súbitas no clima da Antártida”, explica Paula Matos.

Pormenor de líquenes numa rocha na Calleta Argentina, Ilha de Livingstone. Foto de Paula Matos.

O projeto que as leva nesta expedição é o Lichen Early Meter – Development of an ecological indicator to monitor the effects of climate change in polar regions based on lichen functional traits, um dos 14 projetos no âmbito do Programa Polar Português (PROPOLAR) para 2018/2019. O plano de trabalhos deste projeto tem por objetivo dar continuidade ao estudo que Paula Matos tem vindo a desenvolver no seu doutoramento e pós-doutoramento.

Tomando como ponto de partida o facto de os líquenes já serem utilizados como indicadores ecológicos para avaliar a “saúde” dos ecossistemas face a fatores como poluição ou alterações no uso dos solos, por exemplo, Paula Matos tem vindo a estudar como os líquenes podem ser utilizados como indicadores ecológicos globais das alterações climáticas – trabalho que já teve oportunidade de apresentar nas Nações Unidas, em maio de 2017.

Para além do desenvolvimento do indicador ecológico, o estudo das mudanças climáticas na Antártida requer aliar a Biologia à Geologia, área de formação de Maria Alexandra Oliveira: “Vou utilizar a liquenometria – um método de datação que utiliza os conhecimentos que existem sobre a taxa de crescimento de certas espécies de líquenes para tentar determinar há quanto tempo é que uma determinada rocha está exposta – em depósitos relacionados com o recuo dos glaciares para compreender a dinâmica dos mesmos”, explica Maria Alexandra Oliveira.

O desafio das baixas temperaturas

As investigadoras passam grande parte do dia no exterior em trabalho de campo, enfrentando temperaturas médias de 0ºC, o que implicou preparativos especiais para a viagem. “Trabalhar num ambiente muito frio significa ter de andar sempre com três camadas de roupa – felizmente a PROPOLAR empresta a terceira camada, que é muito cara”, refere Paula Matos. Ainda assim, vive-se nesta altura o verão no hemisfério sul – no inverno, nesta região registam-se temperaturas médias de -25ºC, e nem a Base Juan Carlos I se encontra em funcionamento.

Base Juan Carlos I (Ilha de Livingstone). Foto de Paula Matos.

À expedição à Antártida, com duração prevista até ao início de março, vai seguir-se a análise detalhada dos dados e amostras recolhidas, já na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, até setembro de 2019.

Da equipa do projeto Lichen Early Meter fazem também parte Cristina Branquinho, Juliana Monteiro e Pedro Pinho, investigadores do cE3c (FCUL); Gonçalo Vieira (IGOT-ULisboa); Miguel Ramos (Universidade de Alcalá, Espanha); Pedro Pina (IST-ULisboa) e Ana Salomé (IGOT-ULisboa).

Entre os 14 projetos em desenvolvimento na campanha de 2018/2019 do PROPOLAR, financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), encontram-se áreas tão diversas como as ciências sociais, biológicas, da criosfera, do ambiente e da Terra, assim como projetos de cariz tecnológico e de disseminação de ciência.

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