7/09/2018. Entrevista por Marta Daniela Santos.
Encerramos este conjunto de entrevistas com Alice Nunes (eChanges-cE3c), distinguida com o PhD Merit Award na edição de 2018 do Encontro Anual do cE3c – uma distinção que pretende assinalar o mérito do trabalho realizado no último ano por investigadores que concluíram recentemente o seu doutoramento no centro.
Alice Nunes desenvolveu o seu doutoramento no cE3c, que concluiu em junho de 2017, pelas Universidades de Lisboa e de Aveiro e integrada no Programa Doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais. É atualmente investigadora de pós-doutoramento no grupo ‘Ecology of Environmental Change - eChanges’ do cE3c-FCUL, e as suas principais áreas de investigação são a ecologia funcional de plantas e a restauração ecológica, em particular no contexto de ecossistemas de semi-áridos. Alice Nunes foi recentemente distinguida com o segundo lugar na edição de 2017 do Prémio de Doutoramento em Ecologia – Fundação Amadeu Dias, no âmbito do qual recordamos também a entrevista dada ao cE3c, aqui.
Qual o projeto que desenvolveste ao longo do teu doutoramento no cE3c?
O objetivo do meu projeto de doutoramento foi o de estudar o impacto das alterações climáticas na biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas semi-áridos Mediterrânicos, para os quais se prevê um aumento da aridez num futuro próximo, o que agravará o já elevado risco de desertificação nestas áreas. Para atingir este objetivo, estudámos a resposta dos montados de azinho à aridez num gradiente espacial, para poder modelar e prever o impacto das alterações climáticas ao longo do tempo. Usámos como ferramenta de estudo os atributos funcionais das plantas, porque nos dão uma ideia dos impactos nas funções do ecossistema, como a produtividade, que são a base de todos os serviços do ecossistema, dos quais também depende o bem-estar humano.
Um dos principais resultados que obtivemos foi o de que a diversidade funcional das plantas – a diversidade dos seus atributos funcionais - responde de forma mais consistente à aridez do que a diversidade de espécies por si só, sendo um melhor indicador para monitorizar os efeitos do clima nas funções do ecossistema e mapear áreas em risco de desertificação, de modo a otimizar a sua gestão e/ou promover a sua recuperação.
Atualmente és investigadora de pós-doutoramento: qual o trabalho de investigação que estás agora a desenvolver?
O meu trabalho como investigadora de pós-doutoramento vem dar continuidade ao trabalho iniciado no doutoramento. O principal objetivo é validar os resultados que obtivemos em Portugal noutros ecossistemas semiáridos no mundo, testando lá os indicadores ecológicos baseados na diversidade funcional de plantas que desenvolvemos. Também queremos perceber se a diversidade funcional de plantas responde às alterações climáticas ao longo do tempo da mesma forma que responde ao clima no espaço.
De um modo geral, pretendo continuar a trabalhar em ecologia funcional de plantas como base para: i) desenvolver indicadores ecológicos de alterações ambientais, ii) desenvolver indicadores do funcionamento e dos serviços do ecossistema, iii) melhorar o restauro ecológico de ecossistemas semiáridos degradados.
Tratando-se de um estudo à escala global, este projeto requer uma forte colaboração com investigadores em vários pontos do mundo, não é? Queres contar-nos um pouco mais sobre o papel destas colaborações neste projeto?
Sim, exatamente. A ideia deste projeto é procurar padrões globais de resposta que possam ser utilizados como indicadores de mudanças na estrutura e funcionamento dos ecossistemas em qualquer zona semiárida no mundo. Para isso, é essencial a colaboração com investigadores que trabalham noutras zonas semiáridas no mundo. Temos colaborações, por exemplo, com investigadores de um importante ecossistema semiárido exclusivo do Brasil – a Caatinga, entre outras, apoiadas por projetos de investigação que estão em curso e que proporemos no futuro.
Quais são as tuas expectativas para os resultados?
Esperamos obter um indicador ecológico consistente do efeito das alterações climáticas nos ecossistemas semiáridos, que se possa aplicar à escala global para monitorizar os efeitos do clima na estrutura e funcionamento destes ecossistemas e mapear áreas em risco de desertificação. Espero ainda que os resultados possam contribuir de forma efetiva para melhorar as estratégias de gestão e de restauro usadas para combater a desertificação e mitigar os efeitos das alterações climáticas nestes ecossistemas.
Porque escolheste esta área de investigação?
Há quem diga que tenho “uma certa ruralidade...”, o que é motivo de riso e brincadeira. Na verdade, acho que isso reflete um gosto vindo da infância pela natureza e pelo ar livre a que tinha acesso apenas nas férias nos meus avós, que suspeito estará na origem desta ligação à ecologia. Biografias à parte, fui também inspirada por professores e colegas investigadores que tive o prazer de conhecer ao longo do meu percurso académico, entre os quais se encontram as minhas orientadoras de doutoramento Otília Correia e Cristina Branquinho, a quem estou imensamente grata.
O que significa para ti receber esta distinção?
Esta distinção é um motivo de orgulho, por ver o nosso trabalho distinguido entre outros de excelente qualidade dentro do cE3c, e uma motivação acrescida para continuar a trabalhar em investigação em Ecologia.