31/08/2018. Entrevista por Marta Daniela Santos.
Martina Panisi (TMB-cE3c) foi distinguida com a Best Flash Talk no Encontro Anual cE3c 2018 – uma distinção inaugurada nesta última edição do Encontro Anual, que pretendeu distinguir por voto do público a melhor apresentação de 5 minutos (Flash Talk).
Martina Panisi iniciou este ano o seu doutoramento no âmbito do Programa Doutoral em Biodiversidade, Genética e Evolução (BIODIV), inserida no grupo “Tropical and Mediterranean Biodiversity – TMB” do cE3c. Os seus interesses de investigação passam pela Ecologia e Conservação de espécies insulares, interação entre o Homem e a vida selvagem, consciência ambiental e questões sociais na conservação da biodiversidade, tendo sido recenteente dstinguida pela National Geographic com uma Bolsa de Início de Carreira para desenvolver o projeto Learning with the Forest Giants (snails): a story to be told (como noticiámos aqui).
No que consiste o trabalho que apresentaste nesta Flash Talk?
O trabalho que apresentei é o resultado de uma parte da minha tese de mestrado em Biologia da Conservação cujo título é “Biological invasion and the conservation of endemic island species: São Tomé Archachatina giant land snails (Pulmonata: Achatinidae)”.
Nesta investigação analisámos a distribuição e a ecologia de dois caracóis-gigantes-terrestres-africanos da Ilha de São Tomé (Africa central), uma espécie endémica (Archachatina bicarinata) e uma introduzida (Archachatina marginata), para perceber se o declínio acentuado da espécie endémica está relacionado com a recente introdução da espécie exótica.
Os resultados sugerem que a expansão da espécie introduzida na ilha tem um impacto negativo na ocorrência da espécie endémica, contribuindo para o seu desaparecimento, juntamente com outros fatores como a perda de habitat e a recolha intensiva por parte da população. Contudo, ainda não se sabe ao certo quais são os mecanismos de interação entre estas espécies, mas suspeita-se de exclusão competitiva e de uma doença, introduzida ou disseminada pela espécie introduzida.
E a que outros temas te tens dedicado no teu projeto de doutoramento?
O tema do meu projeto de doutoramento está neste momento em elaboração, mas prevejo continuar a fazer investigação em Biologia da Conservação nas ilhas de São Tomé e Príncipe, possivelmente envolvendo uma componente ecológica e uma componente social. Em breve poderei regressar às comunidades Santomenses, onde estivémos a realizar entrevistas no âmbito da minha tese de mestrado, para uma ação de sensibilização focada na preservação da biodiversidade nativa e do búzio endémico, e planeamos investigar qual a perceção das pessoas acerca do Parque Natural da ilha e da conservação das espécies nativas.
Quais são os principais desafios neste trabalho?
Como a maior parte das investigações em ecologia, é muito difícil avaliar todas as variáveis que estão a causar o declínio de uma espécie, sendo difícil planear e implementar soluções para a sua conservação. O principal desafio será poder encontrar soluções para a expansão da espécie invasora e declínio da espécie endémica, considerando que estas espécies são um importante recurso alimentar pela população Santomense e que qualquer medida de conservação deverá ter em conta destas necessidades.
Porque escolheste esta área de investigação?
Desde que me recordo que nada me fascinou mais do que a beleza e a complexidade da diversidade da vida. Por isso, para mim sempre foi óbvio dedicar-me ao seu estudo e à sua proteção. Foi por isso que escolhi estudar Biologia da Conservação, tendo assim a possibilidade de desenvolver este projecto – um pequeno exemplo de investigação em conservação da biodiversidade, mas que consegue encher a cabeça e o coração de perguntas e desafios.
O que significa para ti receber esta distinção?
Receber esta distinção representa para mim uma grande satisfação pelo trabalho feito e um incentivo para poder continuar neste caminho. Este reconhecimento sugere o quão válido tem sido o apoio recebido por parte dos meus orientadores e por parte de todas as pessoas que se interessaram por esta investigação e que ajudaram, cada uma de sua forma, a chegarmos ao final desta primeira etapa.
Que conselhos gostarias de deixar para quem pretenda seguir esta área?
O trabalho nesta área pode ser muito árduo e desmotivador e, em Portugal como noutros países, a maioria dos investigadores está a sofrer condições de precariedade e muita competitividade. Contudo, com perseverança, amor e dedicação para o que se faz consegue-se avançar, sendo um trabalho muito gratificante e uma grande contribuição para investigar numa das áreas mais críticas para a resolução dos problemas do nosso tempo.