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Primeiro estudo sobre a ecologia da alimentação das tartarugas verdes da África Ocidental


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10/08/2018. Texto de Marta Daniela Santos.

Na fotografia de destaque: Este estudo, coordenado por investigadores do cE3c-FCUL, foi realizado em colaboração antigos pescadores de tartarugas locais. À esquerda: investigadora Joana Hancock (TMB-cE3c). À direita: Lucio Taraveira e a sua familia, a preparar uma tartaruga verde sub-adulta para amostra de pele e dados biométricos (Ilhéu das Cabras).

Na fotografia à esquerda: Aladino Santos, antigo caçador de tartarugas da comunidade de Porto Alegre, com uma tartaruga verde juvenil recem-capturada.

Um estudo agora publicado na revista científica Marine Ecology Progress Series é o primeiro a fornecer dados sobre a ecologia da alimentação das tartarugas verdes (Chelonia mydas) na África Ocidental. O estudo é liderado por Joana Hancock e Rui Rebelo, investigadores do cE3c-FCUL, e contribui para o delineamento de medidas de conservação mais eficazes para esta espécie.

A tartaruga verde (Chelonia mydas) ocorre um pouco por todo o mundo, nas regiões tropicais e subtropicais dos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. Trata-se de uma espécie sobretudo herbívora, que deve o seu nome comum à cor esverdeada da gordura corporal que se encontra por baixo da sua carapaça.

No entanto, a sua ampla distribuição geográfica não é sinónimo de uma elevada população: desde 1982 que esta espécie está classificada como “Em perigo” pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), dado que as suas populações têm registado um declínio significativo ao longo das últimas décadas devido à captura e caça, já considerados ilegais em vários países.

Estudar o comportamento de busca de alimento das espécies em perigo é fundamental para delinear medidas de conservação mais eficazes – e o estudo agora publicado é o primeiro a fornecer dados sobre a ecologia da alimentação das tartarugas verdes na África Ocidental.

Em colaboração com antigos pescadores de tartarugas locais, os investigadores identificaram e estudaram dois locais com características distintas na ilha de São Tomé, capital de São Tomé e Príncipe: Ilhéu das Cabras, com características de pradaria marinha; e Porto Alegre, que corresponde a um local de fundo rochoso. Através de técnicas de observação e captura próprias para cada local estudado, os investigadores conseguiram estimar o número de tartarugas que habita em cada área de alimentação e o tipo de alimento que consomem.

"Como os isótopos estáveis presentes em diferentes alimentos se incorporam de forma previsível nos tecidos dos animais que os ingerem, foi possível verificar, através da análise da pele de animais encontrados e vários tipos de algas, que tartarugas do mesmo tamanho e da mesma população podem ocupar diferentes nichos ecológicos, adaptando-se a dietas específicas em locais de características distintas. Mais importante, acabam por ocupar zonas específicas de alimentação, residindo em cada zona por meses e possivelmente até anos, até atingir a madurez sexual", explica Joana Hancock, primeira autora do artigo, estudante de doutoramento no cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (FCUL) e no CIBIO – Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos.

Os dados deste estudo poderão ser comparados com dados demográficos de outros locais na África Ocidental, onde o conhecimento atual sobre o comportamento de busca de alimento das tartarugas verdes é limitado. “Os nossos resultados demonstram a atividade do Homem pode afetar de forma diferente subconjuntos de uma mesma população de tartarugas verdes, de acordo com o nicho ecológico que ocupam”, conclui Joana Hancock.

Joana Hancock está a desenvolver o seu doutoramento no âmbito do Programa Doutoral em Biodiversidade, Genética e Evolução (BIODIV), sob a orientação de Rui Rebelo, investigador do grupo "Tropical and Mediterranean Biology - TMB" do cE3c.

 

Referência do artigo:

Hancock JM, Vieira S, Jimenez V, Rio JC, Rebelo R, Stable isotopes reveal dietary differences and site fidelity in juvenile green turtles foraging around São Tomé Island, West Central Africa (2018), Marine Ecology Progress Series, Vol. 600: 165-177

https://doi.org/10.3354/meps12633

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