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Post-Doc Merit Award cE3c 2017: Entrevista a Artur Gil


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23/06/2017. Entrevista por Marta Daniela Santos.

É com o investigador cE3c Artur Gil, dos grupos de investigação IERS e IBBC, que damos início a uma série de entrevistas semanais com os investigadores que receberam distinções na 3ª edição do Encontro Anual cE3c, que se realizou nos passados dias 5 e 6 de junho no Campus de Ponta Delgada da Universidade dos Açores.

Artur Gil foi distinguido com o PostDoc Merit Award 2017, distinção que pretende assinalar o mérito do trabalho realizado no último ano por investigadores de pós-doutoramento do centro.

Artur Gil é doutorado em Ciências Ambientais pela Universidade dos Açores (2008-2012), tendo vindo a especializar-se no desenvolvimento de aplicações de deteção remota terrestre para apoio à decisão nos domínios do planeamento territorial, gestão de recursos naturais e conservação da natureza em territórios remotos como as pequenas ilhas oceânicas e as zonas de montanha, usando sobretudo as regiões portuguesas insulares (Açores e Madeira) como casos de estudo.

 

Qual o tema, ou quais os temas, em que tens trabalhado no teu pós-doc?

Iniciei o meu atual projeto de pós-doutoramento, denominado ECOSENSING, em julho de 2015. Neste projeto  estou a desenvolver indicadores de monitorização de ecossistemas agrícolas com elevado valor ecológico  ("High Nature Value Farmland")  totalmente baseados em dados de deteção remota por satélite, de modo a suportar esta tarefa de modo semiautomático, geograficamente abrangente, tecnicamente robusto e cientificamente coerente. 

Quais são os principais desafios neste trabalho?

Porque o domínio da deteção remota por satélite está estreitamente ligado a um permanente desenvolvimento tecnológico, requer a necessidade de estar constantemente atualizado, quer do ponto de vista teórico, quer tecnológico. Por outro lado, a qualidade e quantidade de dados recolhidos in situ é fundamental para calibrar e assegurar a fiabilidade dos produtos obtidos por deteção remota. 

Se acrescentarmos a esses desafios a cada vez mais gigantesca quantidade de dados disponibilizados por vários sensores, e a necessidade de extrair deles apenas informação relevante e credível para que possa ser integrada nos sistemas de apoio à decisão, estão reunidas todas as condições para desenvolver um trabalho altamente estimulante, mas igualmente exigente sob os pontos de vista técnico e científico. 

Porque escolheste esta área de investigação?

Comecei desde muito cedo, em 1999, a trabalhar em aplicações de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para apoio à decisão em gestão territorial. A necessidade de dispor de informação geográfica em maior quantidade e com maior qualidade (e fiabilidade) para os meus projetos de SIG implicou uma dedicação crescente ao meu objetivo pessoal de autocapacitação em deteção remota. Daí até iniciar o doutoramento e especializar-me neste domínio foi um passo lógico. Este tipo de percurso – a transição dos SIG para a deteção remota – é cada vez mais comum nesta área.

Por outro lado, o facto de viver há treze anos numa ilha oceânica – em São Miguel, Açores - despertou rapidamente o meu interesse pelo estudo dos ecossistemas e sistemas de produção agroflorestal localizados em zonas mais remotas, e consequentemente de mais difícil observação e monitorização.

Finalmente, é para mim fundamental que o objetivo da minha investigação possa sempre redundar em apoio cientificamente fundamentado à decisão (política), que necessita de se basear na definição e monitorização periódica de indicadores para ser o mais eficiente e objetiva possível.

O que significa para ti receber esta distinção?

É um privilégio para mim poder fazer da minha paixão pela investigação a minha profissão. Quando este trabalho quase sempre invisível e muitas vezes inglório é publicamente reconhecido e premiado, temos ainda mais motivos para continuarmos a melhorar, de modo a nos continuarmos a superar.

Agradeço por isso ao cE3c esta distinção, e sobretudo a todos os cientistas, técnicos e administrativos que para ela contribuíram decisivamente através do seu apoio, colaboração e cooperação. Um agradecimento particular é devido à fantástica equipa do Grupo da Biodiversidade dos Açores, que reúne os membros dos dois grupos IERS e IBBC do cE3c, nas pessoas do Prof. Paulo Borges - o seu carismático e simpático líder que prima sempre pelo exemplo - e da Prof. Patrícia Ventura Garcia (coordenadora do IERS, pela confiança em mim constantemente demonstrada). Quero agradecer também à Prof. Helena Calado (Universidade dos Açores e MARE) que me alberga no seio da sua equipa desde finais de 2007, e que sempre acreditou nas minhas capacidades e potencial. Finalmente, um agradecimento muito especial à minha família, que é o meu imprescindível suporte.

Que conselhos gostarias de deixar para quem pretenda seguir esta área?

O meu primeiro conselho é que o façam sem receio. Embora seja uma área extremamente competitiva, está em franca expansão global, com financiamento público e privado crescentes, sobretudo ao nível europeu. Na minha opinião há poucos domínios científicos que sejam tão “globais” em termos de recursos e aplicabilidade, e em que a indústria esteja de facto tão atenta ao desenvolvimento científico como acontece no sector da “Observação da Terra”.

Tal como disse anteriormente, pelo facto de ser uma área com grande pendor tecnológico, é fundamental uma grande capacidade de adaptação às constantes novidades que o sector vai apresentando, quer em termos de plataformas/sensores, quer em termos de paradigmas de processamento e análise de dados, e de disponibilização e visualização da informação digital final.

Este fator de mudança constante e complexidade crescente pode ser fortemente mitigado pela oportuna integração em redes internacionais, formais ou informais, de investigadores que potenciarão melhores aprendizagens, interações mais facilitadas, e colaborações ou cooperações mais profícuas entre cientistas com interesses similares ou complementares. 


Tags: IBBC IERS

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