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A importância de estudar a simbiose de forma integradora

12/04/2019. Texto de Silvana Munzi e Marta Daniela Santos.

Na imagem: Parmotrema hypoleucinum, uma associação simbiótica de líquenes atualmente estudada no cE3c (FCUL). Fotografia de Silvana Munzi.

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Um novo artigo de discussão, publicado na revista científica Science of the Total Environment, estabelece a necessidade de uma nova abordagem integradora para o estudo da simbiose, uma estratégia fundamental para a vida na Terra. As autoras, investigadoras do cE3c (FCUL), defendem que esta nova abordagem deve tomar como ponto de partida as semelhanças entre os sistemas e não as suas particularidades.

Todos os animais, todas as plantas – em suma, todos os organismos conhecidos – estabelecem algum tipo de relação simbiótica. De forma geral, a simbiose pode ser definida como uma interação entre dois organismos de espécies diferentes, benéfica ou não para ambos. E porquê “de forma geral”? Porque o próprio conceito de simbiose tem vindo a evoluir no tempo, sujeita a diferentes interpretações, à medida que evolui o estudo de diferentes sistemas simbióticos e à medida que se altera a nossa visão do indivíduo: não como um organismo compartimentado, mas como um sistema aberto em comunidade com o ecossistema que o rodeia.

Apesar da evolução do conceito de simbiose, o nosso conhecimento do significado ecológico destes sistemas e do seu funcionamento é ainda bastante limitado, pois tem vindo a evoluir através do estudo de organismos e sistemas de forma isolada, e não através de uma visão global. Neste artigo de discussão, as autoras defendem a necessidade de adotar uma nova abordagem integradora para o estudo da simbiose, que poderá potenciar as aplicações deste conceito a diversas áreas.

“Até há pouco tempo a simbiose era considerada como uma particularidade de alguns organismos, bem identificados. Estes sistemas simbióticos ainda são estudados de forma independente, o que representa uma limitação e faz com que o nosso conhecimento sobre a simbiose seja fragmentado. Hoje em dia, não só sabemos que a simbiose é a regra para os seres vivos, como também descobertas recentes mostram que a distinção entre diferentes tipos de simbiose, como parasitismo e mutualismo, não é justificada”, explica Silvana Munzi, investigadora de pós-doutoramento do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – FCUL, e primeira autora deste artigo.

As autoras deste artigo argumentam que, dado que vários estudos têm vindo a demostrar que existem mecanismos que são partilhados entre diferentes sistemas simbióticos que eram antes vistos como distintos, então análises comparativas podem promover a identificação de alguns mecanismos gerais e de modelos abstratos e integrativos, que permitam uma compreensão mais aprofundada da simbiose. Estre novo conhecimento poderá dar origem a diversas aplicações biotecnológicas baseadas na simbiose na agricultura, na saúde humana e ambiental, e também em economia, gestão e ciência da computação, onde já são integrados modelos de evolução simbiótica.

Graphical abstract do artigo (por Silvana Munzi)

“Cada um de nós está ligado e depende de outros seres humanos e de componentes dos ambientes de forma muito mais profunda do que se pensava, através do microbiota, a um ponto em que a saúde ambiental se torna indistinguível da saúde humana. Esta nova visão da vida, baseada na co-dependência, deve levar-nos a adotar uma atitude menos egoísta: não só em Biologia, mas para além dela”, conclui Silvana Munzi.

São também autoras deste artigo as investigadoras Cristina Cruz e Ana Corrêa, do cE3c (FCUL).


Referência do artigo:

Munzi S., Cruz C., Corrêa A. (2019) When the exception becomes the rule: An integrative approach to symbiosis. Science of the Total Environment, Vol. 672, Pages 855-861. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2019.04.038

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